Foram
muitas as mensagens recebidas durante a semana sobre o último tópico postado: O
“Injusto Regime Tributário do Brasil”. Muitas dúvidas surgiram o que é natural
já que não me propus a esmiuçar o regime de tributos do país.
Mas
para que fique mais claro posto hoje melhores esclarecimentos sobre o assunto.
Além de
ter uma das maiores cargas tributárias do mundo, o Brasil é um dos países mais
injustos na hora de cobrar impostos de seus cidadãos. Os brasileiros são mais
onerados sobre o que consomem do que sobre os seus rendimentos. O problema é que um tributo cobrado
na compra de determinado produto ou serviço pesa proporcionalmente mais no
bolso do cidadão pobre do que da parcela mais abastada. Já a tributação sobre rendimentos ou
sobre o patrimônio é mais justa, pois varia de acordo com a capacidade que cada
um tem de contribuir.
Cálculos
feitos pelo Sindicato Nacional dos Auditores (Sindifisco Nacional) mostram
que, enquanto a tributação sobre o consumo no país tem ficado em torno de 18%
do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos anos, a tributação sobre rendimentos está num patamar bem mais baixo: 8% do PIB.
De
acordo com os dados mais recentes disponíveis, os impostos que incidem sobre
produtos e serviços responderam por 53,57% da arrecadação do país em 2010.
Entre eles estão o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o ICMS. Já a
tributação sobre a renda ficou em 24,97% do total recolhido em 2010, que somou
R$ 1,278 trilhão, considerando as arrecadações federal, estadual e municipal.
Embora
os cálculos da entidade só estejam atualizados até 2010, a estrutura tributária
não melhorou nos últimos dois anos.
Os brasileiros continuam pagando
muito sobre o consumo. Esse é um dos motivos pelos quais os gastos dos turistas
no exterior estão batendo recordes.
De
acordo com levantamento do Sindifisco, a divisão entre impostos sobre renda e
sobre consumo é muito mais equilibrada em outros países. Na OCDE, por exemplo,
o consumo responde por 30% do total arrecadado. Já nos Estados Unidos, o
percentual é de apenas 10%. Considerando a carga tributária total do país, o
Brasil mostra uma média bem superior aos demais emergentes.
Enquanto a carga dos impostos no bolso
dos brasileiros somou 33,92% do PIB em 2010, no Chile ele chegou a 18,5%; no
México, a 21%; e na Turquia, a 24%. Pelos cálculos do Instituto Brasileiro de
Planejamento Tributário (IBPT), a carga continuou subindo e fechou o ano
passado em 36,3% do PIB.
A
estrutura tributária brasileira precisa ser revista pelo governo para se tornar
menos regressiva. Isso não significa aumentar o Imposto de Renda para os
trabalhadores já que o Brasil precisa de uma reforma que torne a tributação
mais equilibrada. É preciso corrigir as distorções que existem hoje.
Entre
elas está, por exemplo, o fato de o país nunca ter conseguido implementar a
cobrança de um imposto sobre grandes fortunas. Outra injustiça é a isenção para
a distribuição de lucros e dividendos para acionistas e sócios de empresas
conforme o seu regime de tributação.
É comum
o sócio de uma empresa declarar à Receita que ganha R$ 1,5 mil como pró-labore
e depois receber R$ 10 milhões como distribuição de lucros sem ser tributado.
Em
troca de acabar com algumas benesses para um pequeno grupo de contribuintes o governo poderia fazer desonerações
maiores de PIS/Cofins, por exemplo, o que tem impacto sobre os preços das
mercadorias, como aliás tem feito muito ultimamente.
Outra
iniciativa importante seria a correção completa da tabela do Imposto de Renda
da Pessoa Física. Considerando os últimos 16 anos, a defasagem na tabela do IR alcançou nada menos que
66,4%. No entanto, a equipe econômica vem fazendo uma correção de apenas 4,5%
por ano. O governo também poderia permitir, por exemplo, o abatimento de
despesas com aluguel do IR.
A
tributação sobre patrimônio no Brasil seria outra opção para redistribuir o
peso dos impostos sobre a população. Um exemplo está no imposto sobre
transmissão de imóveis, cuja alíquota varia de 2% a 4%. Esse tributo deveria
ter um comportamento mais progressivo. Isso significa que imóveis de valores
mais baixos poderiam ser isentos desse tributo, e os mais caros teriam
alíquotas que variassem de acordo com seu valor.
Embora
venha fazendo uma série de desonerações com tributos sobre o consumo, como a
redução do PIS/Cofins para a cesta básica e a diminuição do IPI para linha
branca, a equipe econômica ainda não enfrentou diretamente o problema da
estrutura tributária regressiva no país. Temas como a criação de um imposto
sobre grandes fortunas criariam muita polêmica no Congresso, o que acabaria
tornando ainda mais difícil a concretização de uma agenda do governo para o
ano.
O foco
da equipe econômica é unificar a cobrança do ICMS para acabar com a guerra
fiscal e também reestruturar a forma de cobrança do PIS/Cofins para as
empresas.
Já que
o povo está na rua pedindo “reforma política” poderia muito bem pedir também a
“reforma tributária”.
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