Em meio a diferentes apostas sobre o comportamento
futuro do dólar, há apenas uma certeza por parte dos economistas: a moeda
americana não deve voltar tão cedo à casa dos R$ 2, valor em que era negociada
no início do ano, apesar do ligeiro recuo em relação ao real na semana passada.
Hoje, o dólar
comercial, que é usado no comércio exterior, ganhou fôlego e encerrou o pregão
cotado a R$ 2,45.
O dólar já
acumula valorização superior a 10% no ano frente à moeda brasileira e já ultrapassou
o patamar de R$ 2,30, considerado o limite superior de uma "banda
informal" aceita pelo governo para não prejudicar a inflação.
O ciclo de alta
teve início em meados de maio deste ano. Desde então, o governo vem tentando
frear o avanço da moeda americana. Em junho, o Ministério da Fazenda zerou o
Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investimentos estrangeiros em
renda fixa e derivativos na esperança de atrair dólares. O tributo vinha
funcionando como uma espécie de "barreira" à entrada de dólares no
país.
Simultaneamente, o Banco Central
vem realizando leilões da moeda americana no mercado futuro (chamados de
"swap cambial"), com o objetivo de puxar a cotação do dólar para
baixo. A BBC Brasil ouviu especialistas para entender o que há por trás da
recente valorização do dólar e seus principais reflexos para a economia
brasileira.
Para especialistas, a
principal explicação para a alta do dólar vem dos Estados Unidos. Havia a
expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderia,
em breve, reduzir os estímulos à economia do país. A aposta é baseada em dados
que sinalizam uma recuperação da atividade econômica dos EUA, como a expansão
maior do que prevista do PIB no segundo trimestre (de 1,7%) e a queda do
desemprego, que atingiu o menor nível em quatro anos. Esta expectativa
confirmou-se no dia de hoje.
Para
economistas, outro fator que explica a trajetória recente de alta do dólar é,
em menor grau, a perspectiva negativa para a economia brasileira. Com espaço
limitado para políticas de estímulo à economia e juros mais altos, o mercado já
prevê um crescimento mais baixo para o Brasil este ano.
Uma das maiores preocupações em relação à
valorização da moeda é a inflação. Nos últimos 12 meses encerrados em julho, o
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial medida
pelo IBGE, foi de 6,27%, abaixo dos 6,7% registrados no período anterior, porém
acima do centro da meta.
Desde 1999, o
Brasil trabalha com um sistema de metas de inflação anual. O centro da meta
para 2013, estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,5% , mas o BC
admite, ainda dentro da meta, uma variação de dois pontos percentuais para cima
e para baixo.
Com o dólar
apreciado, os produtos importados ficam mais caros. Em paralelo, em alguns
casos, a exportação passa a se tornar mais atraente para o produtor, que passa
a vender para outros países (pois ele passa a receber mais reais pelo mesmo
produto vendido ao exterior em dólar). A menor oferta (no mercado interno)
tende a elevar o preço nas prateleiras.
Segundo o IBGE,
os reflexos da alta do dólar ainda não puderam ser observados claramente na
inflação do mês passado. No entanto, o preço do pão francês, cuja
matéria-prima, o trigo, é importada em sua maioria, saiu de uma deflação de
0,05% para uma alta de 0,68% de junho para julho. O mesmo aconteceu com a
farinha de trigo, que passou de 0,76% para 1,33% no período.
No grupo
excursões, que inclui as viagens, o aumento da inflação foi de 6,49% em julho,
frente a uma variação de 0,49% no mês anterior, influenciado por uma alta do
preço das passagens aéreas e tarifas de ônibus.
Em
linhas gerais, a alta do dólar prejudica as importações, ao passo que beneficia
as exportações. Na avaliação dos economistas, o impacto será negativo na
balança comercial (registro do que país vende e compra do exterior), que
registra as importações e as exportações do país. No acumulado do ano, o saldo
está negativo em US$ 5 bilhões, um recorde histórico.
O
dólar mais caro, por outro lado, torna os produtos importado mais caro e como
consequência, como disse acima, haverá menor oferta de produtos elevando os
preços duas vezes, a primeira para reajustar os preços ao valor pago em dólares
e a segunda alta será provocada pela lei da oferta e procura; menos produtos
mais consumidores, preço maior.
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