Fui
procurado tempos atrás por um casal, dois filhos, que praticamente se
encontravam em deplorável estado emocional; haviam sido encaminhados por um
amigo comum para aconselharem-se comigo; o motivo: dívidas e mais dívidas que
já comprometiam mais de 100% da renda familiar mensal.
Pensei
comigo mesmo: pula fora; isto é caso perdido; sabe-se lá o que é começar o mês
sabendo que os rendimentos não pagam as dívidas já contraídas? E a comida como
fica?
Bem,
como não poderia deixar de atender já que quem os havia encaminhado é amigo
pessoal; resolvi aceitar a tarefa.
Começamos
pelos cartões de crédito que estavam todos os três, com seus limites estourados
e o pagamento mensal era sempre feito pelo mínimo. Aqui duas soluções podem ser
apresentadas, a primeira uma ação judicial contra as operadoras pela prática de
juros abusivos já que os juros são compostos, ou seja, mensalmente incide juros
sobre os juros; é causa ganha, porém seu acesso a crédito futuro será
impossível, já que é regra seu nome ficar em uma lista negra bancária. A segunda
é a mais viável: os juros do cartão de crédito andam na casa dos 12,5% ao mês,
no cheque especial paga-se 8% ao mês e finalmente no CDC bancário podemos
conseguir – dependendo do banco – taxas de 2,8% ao mês. Somadas as dívidas com
os cartões e mais as do cheque especial tomamos empréstimos pelo CDC e fizemos
a quitação junto as operadoras e as instituições bancárias.
Para
exemplificar: R$1.000,00 devidos ao cartão de crédito você amortiza R$200,00 e
fica devendo R$800,00; no mês seguinte você está devendo R$908,00 e amortiza mais
R$200,00 para no mês seguinte estar devendo R$803,60. Sabe quando termina de
pagar? Em não menos do que seis anos. Já no CDC você toma R$1.000,00 para
quitar sua divida em 48 parcelas, serão R$49,20 mensais a uma taxa média de
3,15% ao mês. Viram a diferença? No cartão você amortiza R$200,00 mensais elevará
mais de 72 meses para quitar sua dívida; a mesma dívida pelo CDC será liquidada
em 48 meses e vai lhe custar cerca de R$2.300,00 que são equivalentes a 12
amortizações do cartão de crédito. O mesmo raciocínio vale para o cheque
especial.
Sanadas
as dívidas bancárias e com cartões de crédito é necessário você saber que estes
recursos são emergenciais e não recursos para o dia a dia. Tomem estes recursos
somente em último caso. Até mesmo usar o cartão de crédito para liquidá-lo no
vencimento e a vista é perigoso e só deverá ser utilizado se na hora da compra
os recursos já estiveram em seu poder e forem separados para amortizar a despesa. Cartão de crédito é cômodo, porém perigosíssimo.
Segundo
passo na árdua tarefa que recebi: reunião familiar para descobrir o que era
supérfluo na família. Todos na sala; coloquei uma caixinha em cima da mesa e
distribuí aos quatro pedaços de papel para que cada um escrevesse quais gastos
consideravam supérfluos. Surpresa foi ver os pedaços de papel acabarem nas mãos
da família. Mais papéis. Claro que as letras de cada um são facilmente
identificáveis; mas a dinâmica daquela sessão era que o inconsciente de cada um
imaginasse que tudo era anônimo. Então a caixinha rodou de mão em mão, cada um
retirava um papel por vez e em voz alta lia o que estava escrito. Encontramos
de tudo. A proposta então era de que 1/2 daquilo considerado gasto supérfluo
fosse suspenso por seis meses. Proposta aceita, lista feita, como controlar? Um
caderno foi colocado sobre a mesa e ao final do dia todos escreveriam ali o que
gastaram neste dia, despesa a despesa, centavo a centavo e em rígida disciplina
familiar as despesas seriam analisadas uma por uma por todos e em conjunto
decidiram o que era supérfluo e poderia ser cortado. Pelo que me contaram até o
cafezinho do pai foi cortado. E porque citei o cafezinho. Você pensa que ele
não é supérfluo veja só: em média um cafezinho está custando R$1,50 então por
mês seriam R$33,00 e por ano R$396,00 isto se for apenas um cafezinho por dia.
Considerem agora o quilo do café a R$15,00 e o de açúcar a R$5,00 quantos
cafezinhos confeccionamos com estes dois quilos? Se você adquirir uma
cafeteira, que pode ser encontrada até por R$30,00 no mercado, e passar a
produzir em seu próprio ambiente de trabalho é uma economia brutal.
Muitos
outros gastos foram cortados ou reduzidos, as saídas semanais para jantar fora
viraram mensais, ao invés de caros restaurantes passou-se a frequentar
restaurantes de preço mediano; em alguma coisa a mudança deste hábito
prejudicou o ambiente familiar? Claro que não, todos passaram a dar mais valor
ao dinheiro e a convivência familiar.
Nas
reuniões familiares durante alguns meses me fiz presente em uma ou duas,
aconselhando, analisando e incentivando.
Ontem,
passados mais de um ano, para minha surpresa os 4 estiveram em meu escritório
para agradecer e comentar que a família estava sem dívidas porém mantiveram o
que propus a eles, como forma agora de incentivar a poupança familiar.
Esta
foi a maior recompensa por um trabalho que fiz sem remuneração; a felicidade e
o prazer profissional que foi ver, de alguma maneira, aquela família novamente
feliz e que por um fio esteve a ponto de se dissolver.
Pratique
você também a economia familiar.
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